domingo, 30 de março de 2014

Síncope



Meia noite.
As coisas passaram.

Como antes
como ontem
como vida oculta.
Sem mágica
ou desprezo.

Nem superior ao mundo
nem desprezível aos homens.
Com os pés firmes
longe do chão.

Tudo é próximo da memória
e de lugar nenhum.
Tudo tem sabor de passado
uma ausência doce
e branca
e sigilosa.

Meus ídolos morreram lentamente.
Viveram muito?
Viveram pouco?
Que diferença faz
eles morreram.

Quando achei que seria impossível continuar
uma saia rosada
multiplicou a aurora
e um novo jardim
sem flores
de matéria e língua
preveniu meu encanto
de recompor o esquecimento.

A primeira namorada
o primeiro emprego
a primeira provocação da marcha:

" Vencer no mundo
é superar as palavras".

O esquecimento virou passeio noturno.
O que desconheço em mim
é herança que devora
mesa farta
medo do escuro.

As coisas mais próximas
estas sim
morreram.

Eu volto para casa
com a urgência da noite
com uma solidão recuperada.

Das cinzas
o suspiro
é tempo de amar
de voltar para casa
de novo
de conduzir todo enigma
e continuar.

É tempo de alcançar o sol
de beber água dos subterrâneos da Terra.
A escuridão se estende
depois
perde o fôlego.

Lembre-se apenas de não aplaudir no final.
E continuar.


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