domingo, 2 de dezembro de 2012

A fraude da arrogância


Para a diretora de uma escola municipal de São Bernardo do Campo que fez da mudança uma afronta, uma indigestão ao estado de espírito libertário e fraterno.  Que fez da humilhação a engrenagem da voz que cala.

Capitã do mato, dona da escola que é de todos, vê na educação que liberta as forças da alma  um perigo; na cultura uma mentira lustrada com bons modos e na hierarquia, a exaltação  ao “caráter” servil das pessoas .

Para aqueles que se espelham em exemplos assim ou para os dirigentes da Secretaria da Educação de São Bernardo do Campo,  que calaram quando algo pôde ser feito, uma palavra: isto não é uma epígrafe, mas um alerta!








Para contar esta história
foi  preciso construir uma realidade
mais descolada o possível
da realidade em que foi concebida
dando asa a olhares plenos e vagos
que na solidão da partida
semeiam  o chão e rompam com  o teto
para que a medida das coisas
 sejam os pássaros- nunca os de voo raso
 os rios-  nunca a represa
e a pergunta
ou aquilo que denomina o mundo
nunca a certeza muda.


Sorrindo a expressão de reencontro
entre dois velhos amigos
que dançam a colorida leveza das coisas
dançam a faxina
que limpa  a toxina que invade os dias
e levam a Fé
pernas da alma humana
em um passeio de mãos dadas
pelos sonhos das crianças que brincam
rompendo a causa perdida
de toda oferta que liquida a vida.


Sopro  desta poesia-denúncia
esta é a história
da história que não pode se repetir
por isso conto em poesia:
lugar onde os versos
lapidam os fins em possibilidades
e assim
continua  a era  da poesia que dá esperança ao grito
por mais que seja ele calado...


Foi o que aconteceu.
 ( para mim, foi apenas um acaso tardio). 

Em um desses dias
quando o Sol tosta a alma
porque mostra justamente
além do que as “pessoas de bem” cultuam
olhou tão de perto a sombra que
(era viva por não ser apenas o contorno)
quebrou.


Via-se  mais que um corpo esfacelado no chão.
O asfalto crespo
estava incolor.
As pessoas navegavam indiferentes àquela cena
sem espanto ou indignação.


Ninguém via que a morte ali sorria
só quem morria
sentia.
Onde estavam as vísceras ou órgãos
e o sangue jorrando
explodindo das arterias? 


Via-se ali
apenas
emoções expatriadas.
Aqui e ali
viam-se sentimentos
fracos
que não faziam bater um coração
e na falta de oxigênio
sobrou
o gás carbônico da arrogância
que intoxicou
dissolveu
e por não sujeitar-se à leveza
quebrou.


De tanto querer ser maior que os outros
( era dona da hierarquia e da coesão)
deitava  em seu poder
sentindo o esplendor de uma esfinge lunar
e coberta com as  plumas da arrogância
cortejava a bizarrice
de ter o nome cravejado em placas, cerimoniais, memorandos
sempre perversa
eximia-se  do poder que conduz
para o bafio da  dominação
epicentro do poder que seduz
abusa e não constroi
tampouco dignifica. 


De sua boca escorriam palavras mimadas
querendo satisfação
sua barriga fermentava o pus da discórdia
comprimindo
cada um que não concordasse
com seu desejo infantil de dominar o mundo.


Com o  peito estufado das pulsões nefastas
derrubava e pisoteava
como uma cavalaria bárbara em galope  desenfreado
vestindo as esporas de uma supremacia rugosa
a fim de aniquilar sorrisos e sonhos
em troca da obediência servil.


Soprava areia nos olhos de quem não conseguia mais ver
e a cabeça
( principalmente dos “seus” funcionários)
pesava
pesava
pesava o peso de toda indiferença
com os espinhos ácidos da devastação
mas, o que desintegra
esfola
cala e arde
é a  humilhação. 

Parece piada
mas é realidade
isso existe
e faz sofrer.


Construiu um reino
em que todas as pessoas são as extenção do seu egoísmo
(apenas!)
instalou câmeras
que muito depois
tornaram-se a conciencia de cada um
e não mais precisou de eletricidade
tampouco castigos
confissões ou torturas
imperava com o cajado da ameaça
e as pessoas
adormecidas
sob a hipnose do medo
recuavam
cediam
e lamentavam:
 “quem é vivo obedece.”


Você, dona do olhar que reifica
poderia  rir ao ler este texto
assim como ria ao se olhar no espelho
e eu sei
que ali não via  sorrisos
mas, impressões coladas à face
porque foi assim que você morreu.

Quando a última destas ilusões desprendeu-se
eu ouvi seu grito de dor
e agudo
soava o que seria o gérmen do arrependimento tardio
escorrendo pela face.


O mundo é transitório
e os cargos: aparências.
São  extensão da boa vontade
ou sequelas de uma possessivivade doentia
alucinada pelo poder e dominação.


O poder não uniu sua família
porque nem com eles você se reunia à mesa
nunca comeu a mesma comida que todos.
O poder ( ou o que você fez com ele)  não fez pessoas felizes
mas, enfraqueceu a língua daqueles que você impediu de falar.


O poder sorri para você agora
porque ele é o poder que pode
e você, a ilusão que aceita.

Foi aí que você quebrou, lembra?
A rua era transitória demais para você parar o seu carro
a rua trouxe um endereço novo
e o Sol, apenas deu vida
ao que você havia embolorado.


Você quebrou porque tudo que é duro e quer ofuscar
simplesmente quebra.
Não aguentou o sol mais alto
lúcido e contente
gerando vida e sorrisos
e nesta imposição desordenada
 você morreu.


Em seu túmulo
presto homenagem.

Epitáfio: 

Por continuar a era da poesia que dá esperança ao grito
Pois o seu silêncio
Imposto aos socos
renasce em esperança ao pacífico.”
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



11 comentários:

  1. Maravilhoso.
    Recomendo que leia, caso ainda não o tenha feito, Cartas Chilenas. Seus versos me lembraram um pouco a obra de Gonzaga.
    Comentários sobre quem você fala não vou fazer. Você já disse tudo que precisamos ouvir para não sermos daquele modo.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado meu bom!
    Eu lembro de você ter falado sobre o Gonzaga, mas não tive contato com as obras dele ainda. Depois dessa, vou me informar direitinho!
    \o/

    ResponderExcluir
  3. É isso Thiago: a poesia tem várias inflexões, passa por muitos caminhos, nasceu com muitas vocações. Gostei da direção dos versos, desse grito e dessas verdades que a poesia sabe, bem, dizer.
    Beijos,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Tania!
      Obrigado pelas visitas e pelas palavras!
      Infelizmente, esta é uma realidade acredita? Bem que gostaria de tê-la "romanceado" mas eu vivi na pele...
      Senti o peso da opressão e soube fazer minha voz ecoar, mas, e as pessoas que ainda convivem com isso?..

      Excluir
  4. Amei! nossa Thiago perfeita! que vontade de gritá-la e não declamá-la. Estou com vontade de sair e lutar contra os moinhos de ventos!
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Respostas
    1. Eli!
      Calaram a voz das pessoas que trabalham na escola, mas, a poesia é o lugar em que as possibilidades se multiplicam! Vamos acreditar nisso e trabalhar sempre em favor das pessoas, como você tem feito brilhantemente!

      Excluir
  6. Respostas
    1. Uma realidade muito próxima da nossa viu!
      Valeu mesmo Flavinho!!

      Excluir
  7. Eae Thiago Tudo bem você gostaria de fechar parceria, eu poderia fazer um grande feedback para seu blog, se não quiser. Obrigado e Desculpe incomodar. Abraço

    ResponderExcluir
  8. Olá Thiago! Lindo e sofrido como a realidade a que ele se destina! Beijos Shirley

    ResponderExcluir