sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Post de despedida

Olá pessoal!

Depois de um bom tempo, resolvi aparecer e tirar as poeiras do blog.

Como tudo na vida obedece a ciclos, com este espaço também não seria diferente. Esta é minha última postagem.

Enquanto escrevo e dou vida a este espaço em branco, lembro das inúmeras amizades virtuais que surgiram por aqui, o meu primeiro convite para participar de uma antologia fora do Brasil, os feddbacks sobre os poemas...

A última vez que passei por aqui ainda não era um psicólogo e estava ensaiando a publicação                      ( independente, no melhor estilo DIY) do meu " O Livro do Antes" que com muito esforço e contribuição de amigos, a generosidade dos eventos e saraus, consegui vender mais de 500 exemplares!

Hoje me despeço do blog, um espaço virtual mas intensamente afetivo, que tanto me ajudou neste caminho com as palavras e no encontro com pessoas tão especiais ( como não lembrar, por exemplo, do amigo e professor Rubem Leite!).  

Para quem quiser continuar me acompanhando, deixo o convite para conhecer o projeto que dou vida junto com a Carolina Sab, minha namorada. O Comum a 2. é um projeto de edições artesanais e intervenções pelas cidades com lambe-lambes de poesia.
Com o projeto já somamos 3 livros, e um tantão de coisas que é bem melhor acompanhar por lá!
Se quiser conhecer a página no Facebook, é só clicar aqui. .




Como psicólogo clínico estou atendendo em Santo André e coordenando alguns grupos de estudo com o enfoque na abordagem junguiana.
As informações sobre os atendimentos ou os grupos são esclarecidas no email: thiago.cdomingues@gmail.com

Obrigado a cada um que passou por aqui!

Até uma próxima!

Thiago Domingues


domingo, 16 de novembro de 2014

Poema para Manoel de Barros ( em ocasião de seu encontro com as estrelas)



Eis que os tempos de combate
duram o mesmo que as estrelas que vemos.
Eis que a vida
é como uma palavra certeira
sabe bem disso, poeta.

Demoramos para entender você
porque a poesia é como café quente na boca
e a sua mentira, que seja 90%
super a mais-valia da verdade.

Exageramos na diabetes
e na hipertensão
porque vivemos uma vida sem sabores.

Eis que a sua poesia, Manoel
é um convite:
celebremos o aroma do barro
o bolo com gosto de saudades
os olhares com gosto de açúcar.

Se choramos com a sua ida?
Somos sua poesia de uma pátria só
e te escuto convidando os homens
dando uma chave a cada um de nós
abrindo a verdadeira porta das cidades
multiplicando os caminhos
semeando a chuva oculta.

Sim, choramos.
Mas as estrelas são abraços gigantes
as estrelas são amigas
você que me disse, Manoel.

Aprendi contigo
que o desuso das coisas
está no avesso
é lá que elas estão prenhes
sem nunca terem ouvido falar em sexo.

Será o céu um bom lugar para morar?

Manoel
você que inventou o reino das toalhas felpudas
a homeopatia das primaveras
o louvor dos canhões de guerra de travesseiro.
O céu é habitável
mas seria mais verdadeiro te encontrar
amolecendo o por do sol dentro de uma laranja
ensinando o doce ao limão
falando francês com o cachorro da rua
e amando
através da biodinâmica crepuscular do olhar.

Manoel! Eu me apaixonei Manoel!
Meu coração desfolha poesia!
Mas você ri...
depois escova os dentes
como quem acaba de almoçar.

Manuel! Por que come pera enquanto eu falo?
Por que ri
como um Deus que a cada soluço
cria um destino.

Você
que revogou um clima novo na terra
para erradicar a indiferença
uma doença grave
agora vai dormir.

Quando acordar
Manoel
vai continuar despertando pedras.

domingo, 5 de outubro de 2014

Velocidade





Antes de escrever versos
eu crio mundos.

Escrevo enquanto as cidades estão na subida
porque desceremos todos juntos
e buscaremos os soterrados
ressuscitado-os com palavras.

As histórias estão presas
no ingrato ferro e bolo de cimento
em todo avanço que cobre a Primavera
que agoniza raízes
que abafa o esplendor das Paineiras
que faz os homens se levantarem contra outros homens.

Por onde segue a canção do caminho?
Onde está Atlas e a essência do planeta?

Persisto
porque sou poeta
que perfuma a Lua
e mostra aos homens a subversão da sombra
o recuo do clarão azul
transformando o desencanto em  legado.

Inquietas
massas ocas de pele e sebo
inventam precipícios
e lá se vão
longamente
rumo a uma feira de frutas vencidas
e peixes podres.

Não são os meses que tocam os anos
e o primeiro mundo existe.
Está no Amor das nuvens
 não nos homens de pele de enxofre de Manhattan
onde um mundo gradualmente novo se expande em seus dedos...
enquanto você dá poder à ilha
ela ri de você
te chupa
suga de forma indomável
seu hálito de vida.

Os fascistas estão com fome
e querem mais do que três refeições ao  dia.
O mundo ficou mudo
costurado com conforto.

Não terás destino
não terás repouso
enquanto os mesmos filhos de Santa Clara e Francisco
nascerem com a condenação ao silêncio.

Condenados ao silêncio
estão os cães nas ruas
e os animais que são espeto
deformados
como uma lembrança fria que corria.

Com golpes de individualismo e tecnologia
estamos nós
também
condenados ao silêncio.

Seremos resgatados
porque estamos acompanhados
pelo desejo de repartir o amor
em zonas vitoriosas.
A poesia arrancada da terra
testemunha dos dias de consciência
acalmou o frequente sofrimento:
antes do amor
estávamos sozinhos.

O amanhã será
a emanação de um novo mundo.

















segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Poema sobre a passagem do tempo


" Tem gosto de nuvem
do Paraíso". 


Enquanto você dormia
ouvia suas histórias de Presente e Passado.

Era meia-noite
meus ouvidos estavam agitados
como um colecionador de moedas. 
Era uma só voz
e eu já tinha meu amuleto de histórias.

Meu vocabulário se apagou 
( não sou um poeta de palavras)
e tinha nas mãos o segredo do horizonte
meu próprio mito individual.

Mas seus olhos são maiores que a morte
e da aventura que é responder o esquecimento
caiu do céu
como mais uma de suas histórias
o segredo certo para sorrir
o tempo puro para chorar.

Lia com os pensamentos
cada frase
cada história sua
e venci a resistência da rua.
Pescava cada esperança ali despedaçada
e do chão recolhia colares
sorrisos
sentimentos inconclusos.

O evangelho que é estar ao seu lado
deslizando pelas laterais do seu sorriso curto
seus olhos apertados
fiéis como a noite
curavam minha ansiedade
como um fumo
enrolado na palha do tempo.

A chuva caiu
quando o céu quebrou
e se algo se for
lembre-se:
os encontros não são acidentes.



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Poema para a serenidade


Todos caíam. 
Preferiram a queda
a viver de olhos fechados. 

Foi tudo muito rápido
não houve silêncio
para buscar memórias.

As feridas já nasceram prontas.
Doíam
porque a humildade nos rasga
até cicatrizar a sombra.
Ainda quis saber
em que parte do invisível
elas estavam sendo gestadas.

E como ficam as feridas
e os escombros
se embaixo da avenida
não há arco-íris.

Alguns diziam: " foi melhor assim".
Mas a dor
antes de florescer
não muda de lugar tão cedo.

Vieram
como abelhas 
procurando ideias doces.

Trouxeram a pontualidade de uma mentira
para recompor a tristeza.
Sobreviver
não depende de princípios básicos que aprendemos na escola.
A sobrevivência é a herança do vazio
que abre portas
enterra medos
propaga o amor de mãe
em toda tempestade.
Basta estender as mãos. 

Das partes de uma história
deixada para trás 
a tristeza é como um dia simples
que ninguém colocou lá.
Ela está
perdida
em algum lugar do ontem
ferindo os pensamentos que não saem do lugar.

A tristeza deixa suas marcas
como um gigante
que sai de um mar sereno
para criar ondas.

* * * 

Como uma voz alta
o dia amanheceu sem parar.
E todas as certezas que tive com medo
foram apenas ideias antes de dormir.

A tristeza foi embora
porque tinha um nome.

O gigante explodiu. 
Seus restos viraram uma grande cidade ao Norte.

O que antes era vazio 
passou a ter a densidade do tempo presente
e um recado para meu futuro:

as abelhas deixaram as ondas
a tristeza um barco
e em breve
aprenderei a navegar. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Poema habitado



E se o mundo não fosse escuro
antes de você chorar?

Aqui estão minhas mãos
como uma mesa posta.

Balança o mundo sob seus pés
caem suas lágrimas
como o sopro de um machado.

O que pode o poeta
contra lágrimas que não se aquecem?

Com horário marcado
saímos.
Cruzamos a cidade
e a impaciência dela
seguia como um adversário de seu sorriso.

A noite cedeu uma lua particular
e continuamos.

A pele dela
um terraço de acontecimentos
e o cigarro devorava a tristeza que ela sentia
virando música entre seus dedos.

Foi com um chiclete que ela me deu
que eu conheci as canções de um terreno por Santo André.
O caminho até a boca dela
frescor rasgado pela anatomia das frutas
em cores que trabalham.

Debaixo de cada lágrima
um ponto de partida
uma rota de precipício
e a solidão pregada na parede
como um santo padroeiro
abençoando os peregrinos.

Eis que eu reclino os dias frios
e novos ossos protegem seu coração
de palavras selvagens
de quem aprisiona sua subida ao céu dos Homens.

Concentrado
sou como uma igreja aos pobres
sou como a raiz de nossa mãe que nos protege.
Uma flor decifrou o segredo de um anjo
seus olhos apertados decifram o segredo do instante.

Confia.

domingo, 14 de setembro de 2014

Poema 59


" Desde ontem, meus pensamentos todos envolvem você. Dirigindo, trabalhando...Justamente olhando a lua, basicamente nossa madrinha. 




Um manto azul nos cobre.
e com um lápis 
eu escrevo com tintas no vento. 

O seu sorriso é a minha civilização
herança que deixou
aos que se curaram.
O remédio
bem sabes
é viver.

Prendi meu silêncio 
entre as folhas verdes do meu peito
e a alegria 
inflou suas velas.
Eu sou
o que dela
se leva.

O vento
das minhas tintas
escreve em páginas de recomeço
saudando minha aventura
como uma baiana de vestido rendado
milagres e dendê. 

Confia
que a vida tem seu manto
e agulhas. 
Confia
e nunca morrerá de frio.
Serás sempre um livro
pedindo tinta e recomeço.