quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Imperativos



O frio era uma teimosia que quebrava os ossos das árvores.
Aquelas que sobreviveram
 fiéis ao solo
foram ungidas com uma cera
que apesar de nutri-las com a vitalidade dos tons alaranjados
as deixaram com gosto de vinagre na boca.

Após os eventos
profetizou-se: superstição da felicidade ou superação do conforto?
o tormento era pelo direito de decidir
é preciso quebrar ossos para não criar raízes.

Não sabiam elas
(eram apelativamente ingênuas)
que a eternidade seria morte para qualquer recompensa:
seriam eternas filhas da terra
nunca mães do tempo.

Outras árvores não renunciaram ao sofrimento.
Era frio
frio de invernos e esperanças.
Os pequenos seres de almas minguantes
renunciaram ao fruto, ao ninho, à folha
para correrem o mundo
como sementes
florescendo desertos.

O instante
pensavam elas
seria apenas o grito
o que se perpetuaria ao longo dos milênios
seria rouquidão.

A Natureza tem o tempo certo das folhas que caem
e das que se renovam.
Insistir seria  prolongar um céu que não caberia a morte.

É preciso investir contra o conforto e outros fetiches
são ilusões autônomas
melindres mecânicos.
Em cada dor que desmorona a calma
despetalam antigas ilusões
nascendo um novo caminho.

O incompreendido apenas aguarda.

Um comentário: