domingo, 16 de novembro de 2014

Poema para Manoel de Barros ( em ocasião de seu encontro com as estrelas)



Eis que os tempos de combate
duram o mesmo que as estrelas que vemos.
Eis que a vida
é como uma palavra certeira
sabe bem disso, poeta.

Demoramos para entender você
porque a poesia é como café quente na boca
e a sua mentira, que seja 90%
super a mais-valia da verdade.

Exageramos na diabetes
e na hipertensão
porque vivemos uma vida sem sabores.

Eis que a sua poesia, Manoel
é um convite:
celebremos o aroma do barro
o bolo com gosto de saudades
os olhares com gosto de açúcar.

Se choramos com a sua ida?
Somos sua poesia de uma pátria só
e te escuto convidando os homens
dando uma chave a cada um de nós
abrindo a verdadeira porta das cidades
multiplicando os caminhos
semeando a chuva oculta.

Sim, choramos.
Mas as estrelas são abraços gigantes
as estrelas são amigas
você que me disse, Manoel.

Aprendi contigo
que o desuso das coisas
está no avesso
é lá que elas estão prenhes
sem nunca terem ouvido falar em sexo.

Será o céu um bom lugar para morar?

Manoel
você que inventou o reino das toalhas felpudas
a homeopatia das primaveras
o louvor dos canhões de guerra de travesseiro.
O céu é habitável
mas seria mais verdadeiro te encontrar
amolecendo o por do sol dentro de uma laranja
ensinando o doce ao limão
falando francês com o cachorro da rua
e amando
através da biodinâmica crepuscular do olhar.

Manoel! Eu me apaixonei Manoel!
Meu coração desfolha poesia!
Mas você ri...
depois escova os dentes
como quem acaba de almoçar.

Manuel! Por que come pera enquanto eu falo?
Por que ri
como um Deus que a cada soluço
cria um destino.

Você
que revogou um clima novo na terra
para erradicar a indiferença
uma doença grave
agora vai dormir.

Quando acordar
Manoel
vai continuar despertando pedras.

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