sábado, 21 de junho de 2014

Poema diminuto



O pouco que aprendi
foi por fatalidade.

Nada sei
senão a fórmula que sustenta os mistérios
e por isso
para mim
nada foi tão triste.
Para ser honesto
a vida trouxe melancolia e tristeza
mas para mim foi tão natural como Outono, uma xícara ou uma cadeira.

Tudo se renova
como um bom homem
que sabe que dentro de uma conversa nasce uma nuvem
com tranquilidade e chuva para semear.
Mas
gargalhar demais
é roubar o sossego das pessoas.

Desde criança
todos os meus amigos viveram respeitando demais.

Não que eu seja contra o respeito.
Sou contra o que me tira o chão, a luz e as asas.

E meus amigos de infância
continuaram obedecendo demais
e cresceram apenas para rir, comprar carros e obedecer
como um império do sono
ou o trajeto de uma noite furiosa e escura
que não se conclui.

Eu cresci para ver o exílio do lamento
mesmo tendo pouco com o que iludir.

Eles continuaram obedecendo e respeitando
e hoje
o trabalho e o chefe
são roupas que eles não tiram mais.

Eu procuro o vão das coisas
como a sorte do Paraíso escrito na palma da mão.

O vão das coisas é o quintal da Poesia.
Lá o varal seca as roupas que devemos usar
e não existem mais roupas velhas ou novas
ou calças para pregarem os botões.
Há excessos
ou há poemas novos
saindo de cada lavagem.

Não sei mais dos meus amigos
não sei se continuam
velhos ou novos
ou se foram lavados.

Não sei da chuva que cai como lembrança deles
não sei da escola que ainda tem cheiro de pão com salsicha.

Apenas sei que esta é a última linha do parágrafo.
Esta é a verdadeira lição do tempo
já dizia a professora Vera.

Um comentário:

  1. Somos a memória que temos
    e é bom lembrar
    o que uma professora
    nos faz lembrar

    num poema diminuto

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