domingo, 13 de abril de 2014

Poema 80


Acorda.

Acorda e sorri ao vento
o que sabem as nuvens ao nosso respeito?
Elas estavam lá
antes de nós
puras
tricotando pétalas
para inventar um céu habitável de sonhos aos homens
estourando pipoca e omelete de queijo
como fazem as avós.
Nuvens puras são batidas com açúcar.

Cada uma tem seu nome.

 Vejo no peito de cada uma
um crachá escrito com canetinhas de ponta fina
e letras tremidas:
A nuvem pijama de elefante rosa
 nuvem alcaçuz cítrico
 nuvem relógio agitado
 nuvem submarino enlatado
 nuvem chá de morango
 nuvem cebola com shoyo
 nuvem com cheiro de castanha.


 A vida que nos olha
é a mesma que escreve em seus olhos
com amor e canela.
As nuvens 
como filhas da vida
dissolveram  a essência do Sol
para criar uma avenida de força e afeto
no coração dos homens. 

Homens, ainda, indescobertos
com o destino de repartir o amor em zonas vitoriosas
rodeados de uma multidão
de corpos trêmulos
da cidade que não dorme
que não habitam línguas para o gosto do café
para o gosto das cores
para o gosto...

O PIB
O enxofre das ações e da bolsa de valores
saúdam impiedosamente o bom dia
daqueles que o sabor da Terra Natal
ainda
é exílio do cotidiano.

No espelho
quanto olhar cabe em sua imagem
quanto de você ainda é o espelho
quanto de você ainda é outros mundos.

Do silêncio da pedra
caímos da altura da vida
e se não aguentamos o silêncio
é porque ele crava
nossa miséria
nossa potência.

Não aguentamos ser tantos.
Uma aldeia de infinitos agoniza
enquanto esperamos a morte do dia
para dormir.
Há nas veias
ferro, palavras e sangue para lutar.
Há o amor para ser boca de toda alma
e o dia nascer
longe de toda tirania.

Todo prédio comercial  nunca tocará o céu.
Enquanto os patrões ainda fazem vingança
negam a vida de seu movimento mais secreto.

Das nuvens a chuva
confissão e profecia:
estamos próximos da sede incurável da vida.


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