A vida é decisão preliminar.
Perdido entre as nuvens da manhã, que brilhavam o verde flamejante do
desencanto tardio, não fazia Sol em mim. Eu era branco (sem Sol) e linha.
O sentido de cada
linha era ser página e o ritual sagrado deste tema era latente: seguir da
iniciação ao verbo-carne.
A minha jornada
era áspera, fugidia e opaca. Não se vê o futuro sem acender as luzes da
eternidade enquanto presente. Para isso, aprendi que o tempo nada mais é que
uma relação que você tem consigo mesmo. Antes de entender isso, o relógio
seguiu muito tempo como algoz. Hoje, é adorno.
A minha adoração era o
palco de representações que institui como essência criadora. Minha mão
precisava acenar a partida e meus pés marcarem as pegadas do recomeço. Recomeço
enquanto essência que nutre e enquanto nutre arde. Enquanto descobria o mundo
pelo avesso, sentia o calor da noite acesa, torturante, pois era ali,
sozinho, que a aventura saía do coletivo e emoldurava-se para o
individual.
A noite continuava acesa e
gotejando rancores em lugares específicos do meu coração. Sabia que a maldade
era impura, mas era o rancor vivo, que me conduzia sempre um passo para trás. O
rancor é o reviver um olhar sombrio.
Neste caminhar eu tinha certeza
de que para andar para frente, seria preciso enfraquecer o peso extra que
vinha com os rancores e estabelecer a linha que me fizesse voar com a vida.
Porém, para tudo que não temos certeza, temos o tempo certo, o momento sadio.
A alegoria desta infinitude é a
paz. O momento sadio é aquele temperamento forte que arranca os rancores (
ervas - daninhas do coração) e apresenta a paz como evidência do esforço de
permanecer lúcido e preparado para o encontro consigo mesmo. A paz
incandescente não nos faz solitários e apresenta a inquietude floral como
portal para o amanhã. A verdadeira paz é um livro de suavidade aberto e que te
afasta das ilusões.
Tudo que é vendido em forma de
paz é sombra, sombra de uma paz obsoleta.
Ainda no caminho áspero, tive
contato com algumas verdades rudes, gestos do pensar-falho. Sentia que estava
cada vez mais próximo do abismo, e as saídas nunca seriam fáceis de encontrar.
Cada auto-pergunta era um convite à reflexão e cada pergunta plantava em mim
uma viga de um novo edifício forjado à fogo e marteladas. Sim, era um edifício
novo arquitetado de dentro para fora erradicando as imperfeições do solo, que
duraram, imperfeitamente, uma vida toda até aqui. As imperfeições paralisantes
são vícios e vícios são palácios construídos em lugares errados.
Além das imperfeições, também
havia mofo. Tudo que estava mofado era
apenas falta de abertura, uma janela para o Sol.
O abismo nunca esteve tão
familiar. Não me preocupava mais em buscar entradas ou saídas porque tudo eram
entradas e saídas, e depois do desespero, Gratidão.
Ao mesmo tempo em que
enfraquecido pela consciência, estava renovado. Foi preciso estender minha mão
à Gratidão que rogava em silêncio por mim. Foi aí que entendi que a vida é
decisão preliminar porque a vida é um susto. A vida começa antes de você ter
consciência e proclamar que existe.
As palavras-mestres da Gratidão impregnaram
meu corpo, agora um só. Elas também soavam familiares. Reconheci que sempre
estiveram lá e apenas eu não aceitei, porque quem aceita a mentira nunca
reconhece o bom, o pleno e o novo.
Retomei o domínio da minha
própria história.
Após desenterrar as aberrações
(sem violência. A violência é a linguagem dos fracos) reconheci a Redenção, intercedendo às
loucuras do meu próprio ser. Agora, eu era o que deveria ser:
transparente.
Ser transparente é entender os
abismos e reinos da nossa existência e compreender que nunca deveriam causar
guerra, nem devastação interna. Viver apenas pelo desejo é ser unilateral: a
essência é só o fim do fracasso quando cai a aparência.
Corri.
Era mais que preciso
correr.
O dia era 31 e o ano antigo estava
para vencer.
Corria, mas movia a mente com
calma: o mosaico era a Grande obra e eu precisava continuar recolhendo os
cacos.
Foi preciso destronar a ordem e
assumir em cada grão de beleza, ainda invisível, que este ano tenha tudo para
ser o ano dos mosaicos de sonhos férteis.
É preciso. É sempre preciso.
Tem certeza de que gosta dos meus textos?
ResponderExcluirQue coisa mais linda!!!! Parabéns por cada palavra e seja muito mais do que bem vindo a 2013.
Oi Thiago!! Que loco!! Tive que ler umas três vezes e cada vez que leio é uma nova e gratificante sensação! Parabéns!
ResponderExcluirUm (belo) texto a merecer várias leituras... uma única pergunta: se a violência é a linguagem dos fracos, qual deverá ser a linguagem dos humilhados e ofendidos?
ResponderExcluirOlá, Thiago! Já o sigo por aqui. Quero agradecê-lo por se cadastrar na Cia dos blogueiros de Araçatuba e aproveitar para convidá-lo a conhecer o projeto da Cia "O maior poema"
ResponderExcluirEntre na página da Cia e clique sobre o link "O maior poema". Lá encontrará como funcionará o projeto. Adianto-lhe que a intenção da Cia é reunir o maior número possível de blogueiros para compor um poema, respeitando o estilo de cada um. Dê uma olhadinha lá, gostando, inscreva-se. Será uma honra tê-lo como coautor de um poema escrito por muitas mãos.
Muito obrigada