terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sobre o choque, a dissolução, o renascimento e o sentido da vida.




A vida é decisão preliminar.

Perdido entre as nuvens da manhã, que brilhavam o verde flamejante do
desencanto tardio, não fazia Sol em mim. Eu era branco (sem Sol) e linha. 

  O sentido de cada linha era ser página e o ritual sagrado deste tema era latente: seguir da iniciação ao verbo-carne. 

   A minha jornada era áspera, fugidia e opaca. Não se vê o futuro sem acender as luzes da eternidade enquanto presente. Para isso, aprendi que o tempo nada mais é que uma relação que você tem consigo mesmo. Antes de entender isso, o relógio seguiu muito tempo como algoz. Hoje, é adorno. 

 A minha adoração era o palco de representações que institui como essência criadora. Minha mão precisava acenar a partida e meus pés marcarem as pegadas do recomeço. Recomeço enquanto essência que nutre e enquanto nutre arde. Enquanto descobria o mundo pelo avesso,  sentia o calor da noite acesa, torturante, pois era ali, sozinho, que a aventura saía do coletivo e emoldurava-se para o individual. 

 A noite continuava acesa e gotejando rancores em lugares específicos do meu coração. Sabia que a maldade era impura, mas era o rancor vivo, que me conduzia sempre um passo para trás. O rancor é o reviver um olhar sombrio. 

Neste caminhar eu tinha certeza de que para andar para frente, seria preciso  enfraquecer o peso extra que vinha com os rancores e estabelecer a linha que me fizesse voar com a vida. Porém, para tudo que não temos certeza, temos o tempo certo, o momento sadio.

A alegoria desta infinitude é a paz. O momento sadio é aquele temperamento forte que arranca os rancores ( ervas - daninhas do coração) e apresenta a paz como evidência do esforço de permanecer lúcido e preparado para o encontro consigo mesmo. A paz incandescente não nos faz solitários e apresenta a inquietude floral como portal para o amanhã. A verdadeira paz é um livro de suavidade aberto e que te afasta das ilusões. 

Tudo que é vendido em forma de paz é sombra, sombra de uma paz obsoleta.

Ainda no caminho áspero, tive contato com algumas verdades rudes, gestos do pensar-falho. Sentia que estava cada vez mais próximo do abismo, e as saídas nunca seriam fáceis de encontrar. Cada auto-pergunta era um convite à reflexão e cada pergunta plantava em mim uma viga de um novo edifício forjado à fogo e marteladas. Sim, era um edifício novo arquitetado de dentro para fora erradicando as imperfeições do solo, que duraram, imperfeitamente, uma vida toda até aqui. As imperfeições paralisantes são vícios e vícios são palácios construídos em lugares errados. 

Além das imperfeições, também havia mofo.  Tudo que estava mofado era apenas falta de abertura, uma janela para o Sol. 

O abismo nunca esteve tão familiar. Não me preocupava mais em buscar entradas ou saídas porque tudo eram entradas e saídas, e depois do desespero, Gratidão. 

Ao mesmo tempo em que enfraquecido pela consciência, estava renovado. Foi preciso estender minha mão à Gratidão que rogava em silêncio por mim. Foi aí que entendi que a vida é decisão preliminar porque a vida é um susto. A vida começa antes de você ter consciência e proclamar que existe. 

 As palavras-mestres da Gratidão impregnaram meu corpo, agora um só. Elas também soavam familiares. Reconheci que sempre estiveram lá e apenas eu não aceitei, porque quem aceita a mentira nunca reconhece o bom, o pleno e o novo. 

Retomei o domínio da minha própria história. 

Após desenterrar as aberrações (sem violência. A violência é a linguagem dos fracos)  reconheci a Redenção, intercedendo às loucuras do meu próprio ser. Agora, eu era o que deveria ser: transparente. 

Ser transparente é entender os abismos e reinos da nossa existência e compreender que nunca deveriam causar guerra, nem devastação interna. Viver apenas pelo desejo é ser unilateral: a essência é só o fim do fracasso quando cai a aparência.

Corri.

Era mais que preciso correr. 

O dia era 31 e o ano antigo estava para vencer.

Corria, mas movia a mente com calma: o mosaico era a Grande obra e eu precisava continuar recolhendo os cacos.


Foi preciso destronar a ordem e assumir em cada grão de beleza, ainda invisível, que este ano tenha tudo para ser o ano dos mosaicos de sonhos férteis. 

É preciso. É sempre preciso.

 


4 comentários:

  1. Tem certeza de que gosta dos meus textos?
    Que coisa mais linda!!!! Parabéns por cada palavra e seja muito mais do que bem vindo a 2013.

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  2. Oi Thiago!! Que loco!! Tive que ler umas três vezes e cada vez que leio é uma nova e gratificante sensação! Parabéns!

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  3. Um (belo) texto a merecer várias leituras... uma única pergunta: se a violência é a linguagem dos fracos, qual deverá ser a linguagem dos humilhados e ofendidos?

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  4. Olá, Thiago! Já o sigo por aqui. Quero agradecê-lo por se cadastrar na Cia dos blogueiros de Araçatuba e aproveitar para convidá-lo a conhecer o projeto da Cia "O maior poema"

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