quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Entre café e palavras: reunião.



Era uma manhã escorregadia. 

O dia começou atrasado e seguindo os ponteiros da manhã eu também permaneci alguns minutos a mais  na cama. Nada justificava aquele momento de atraso. Entretanto, o atraso justificou-se por si mesmo.  Todo atraso com boa intenção é nobre. Para os preguiçosos, o frio e a cama são dois opostos complementares.

Mal cheguei ao trabalho, ainda com o bom dia a ser dito sonoramente  aos colegas e já avistava a mesa do chefe com uma preocupação ofegante. As reuniões são ótimos lugares para perpetuar os problemas e lá estava eu para oferecer minha contribuição...

Enquanto o chefe não chegava, me aproximei dos colegas da repartição e ainda cansado, com a alma pregada à cama, iniciei a conversa: 

-  São mil passos lentos que essa gestão tem dado para lugar algum! As decisões já foram tomadas meus caros, não haverá solução e sim conflito... As melhores condições de trabalho que tornaram-se os slogans das campanhas tinham data de validade e estas já expiraram, ao fim do processo eleitoral! Vejam a mesa não está mais carnuda hoje? Há salames e rocamboles para vocês! Chá de canela e doces para brindar a apatia motivacional dos nossos chefes!  Essa Prefeitura é um sarro! Querem equacionar a disparidade de melhores formas de trabalho cavando mais e mais os buracos entre nós e eles. Implodindo as rochas desses buracos é para lá que vamos. Somos invisíveis e só servimos para tapar os buracos. 

Após o desabafo, a atmosfera transfigurou-se. Um semblante meditativo pairava sobre nós. 

Senti que tinha descarregado emoções aleatórias no ar. Senti que fui desleal com os colegas. Verdade é que  os representantes do  funcionalismo público em São Bernardo do Campo tem agido com indiferença e distância. Não há propostas, não há diálogo. Há uma vertiginosa voz que materializa-se para informar, redigir e publicar. Nunca para consolidar um convite amigável  ou estender os braços. Há apenas a distância e nós, os funcionários públicos, como números de semblante vazio. 

Ainda sentia  os vapores de uma angústia desconhecida em meu peito. Fui com os colegas para o café, e era apenas isso que queria. Já tinham avançado e caído na mais antiga técnica de domesticação do ser humano: o estômago.

Enquanto saboreava o café, este Rei das Manhãs, alguns colegas se aproximaram. Começamos a falar sobre filmes.  Na Seção tenho todos os funcionários como exemplos! São pessoas de todo o bem e com a humildade que sorri à face. Ali, todas as pessoas unem inteligência à dignidade.

Lembrei que na noite anterior havia assistido ao filme que gerou a discussão: Melancolia. 

O desconforto à precarização da  condição humana e principalmente a angústia de sua finitude, eram discutidos ali em meio aos glutões devorando o apetite para incrementar a argumentação para a reunião. Surgiu-me então um nome que não tinha conhecimento. Tratava-se  de um filósofo dinamarquês que escreveu lúcidos textos sobre a Angústia e eu  precisava de um papel para anotar o nome e pesquisar sobre ele depois. 
Ao tirar o papel do bolso, uma surpresa: 

Melancolia

Meia noite em minha casa
voltando de mais uma aula vazia
(e bem depois daquela briga)
vai dois dedos de conhaque
e na tv melancolia."

Lembrei que havia adormecido durante o filme. As letras no papel eram minhas! Mas, não lembrava de ter escrito nada durante o filme...

Intrigado, não havia mais tempo para pensar. O chefe estava ali e a reunião iria começar...

Decidi, entretanto colocar algumas folhas de papel no bolso e uma caneta também. Mais do que isso, a missão era me manter atento a qualquer distração e sonolência.

É sempre bom estar preparado para quando o poema aparecer! 







Este texto é ficcional e surgiu após o presente do poema “Melancolia" do grande amigo Flavinho! ( O Agente de Biblioteca Flávio Cilento) 
Ofereço como um agradecimento aos amigos da Seção de Biblioteca Escolar e nossas contínuas lutas  para o implemento de políticas mais humanas e participativas aos Funcionários Públicos de São Bernardo do Campo.

É uma Seção enorme, de pessoas maravilhosas, mas, gostaria de citar alguns nomes em que gostaria de endereçar meu sentimento eterno de gratidão:

Ao grande amigo e filósofo ( O nosso " Google" ) Marcelo Blum; Ao "meninão" e futuro jornalista Cleber Benedetti; Para as bibliotecárias Sílvia ( Mimi Curica) e Elizângela;  Ao estimado Professor-Amigo-Filósofo Andrei Vaczi; Ao poeta-advogado Flávio Cilento ( autor do poema Melancolia); Ao " Bill Gates" da Seção e Professeur du Français Rafa Saad; para a Aline Lima , atual chefe da SE. 132, cuja boa vontade e persistência no bem devem ser enaltecidos e aos grandes amigos que já passaram por nós e hoje estão em outra caminhada, em especial, ao nosso mais recente Papai-Professor de Português Serjão!! 




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