Era uma manhã escorregadia.
O dia começou atrasado e seguindo os ponteiros da
manhã eu também permaneci alguns minutos a mais na cama. Nada justificava
aquele momento de atraso. Entretanto, o atraso justificou-se por si
mesmo. Todo atraso com boa intenção é nobre. Para os preguiçosos, o frio
e a cama são dois opostos complementares.
Mal cheguei ao trabalho, ainda com o bom dia a ser
dito sonoramente aos colegas e já avistava a mesa do chefe com uma
preocupação ofegante. As reuniões são ótimos lugares para perpetuar os
problemas e lá estava eu para oferecer minha contribuição...
Enquanto o chefe não chegava, me aproximei dos
colegas da repartição e ainda cansado, com a alma pregada à cama, iniciei a
conversa:
- São mil passos lentos que essa gestão tem
dado para lugar algum! As decisões já foram tomadas meus caros, não haverá
solução e sim conflito... As melhores condições de trabalho que tornaram-se os
slogans das campanhas tinham data de validade e estas já expiraram, ao fim do
processo eleitoral! Vejam a mesa não está mais carnuda hoje? Há salames e
rocamboles para vocês! Chá de canela e doces para brindar a apatia motivacional
dos nossos chefes! Essa Prefeitura é um sarro! Querem equacionar a
disparidade de melhores formas de trabalho cavando mais e mais os buracos entre
nós e eles. Implodindo as rochas desses buracos é para lá que vamos. Somos
invisíveis e só servimos para tapar os buracos.
Após o desabafo, a atmosfera transfigurou-se. Um
semblante meditativo pairava sobre nós.
Senti que tinha descarregado emoções aleatórias no
ar. Senti que fui desleal com os colegas. Verdade é que os representantes
do funcionalismo público em São Bernardo do Campo tem agido com
indiferença e distância. Não há propostas, não há diálogo. Há uma vertiginosa
voz que materializa-se para informar, redigir e publicar. Nunca para consolidar
um convite amigável ou estender os braços. Há apenas a distância e nós,
os funcionários públicos, como números de semblante vazio.
Ainda sentia os vapores de uma angústia
desconhecida em meu peito. Fui com os colegas para o café, e era apenas isso
que queria. Já tinham avançado e caído na mais antiga técnica de domesticação
do ser humano: o estômago.
Enquanto saboreava o café, este Rei das Manhãs,
alguns colegas se aproximaram. Começamos a falar sobre filmes. Na Seção
tenho todos os funcionários como exemplos! São pessoas de todo o bem e com a
humildade que sorri à face. Ali, todas as pessoas unem inteligência à
dignidade.
Lembrei que na noite anterior havia assistido ao
filme que gerou a discussão: Melancolia.
O desconforto à precarização da condição
humana e principalmente a angústia de sua finitude, eram discutidos ali em meio
aos glutões devorando o apetite para incrementar a argumentação para a reunião.
Surgiu-me então um nome que não tinha conhecimento. Tratava-se de um
filósofo dinamarquês que escreveu lúcidos textos sobre a Angústia e eu
precisava de um papel para anotar o nome e pesquisar sobre ele depois.
Ao tirar o papel do bolso, uma surpresa:
Melancolia
Meia noite
em minha casa
voltando de
mais uma aula vazia
(e bem
depois daquela briga)
vai dois
dedos de conhaque
e na tv
melancolia."
Lembrei que havia adormecido durante o filme. As
letras no papel eram minhas! Mas, não lembrava de ter escrito nada durante o
filme...
Intrigado, não havia mais tempo para pensar. O
chefe estava ali e a reunião iria começar...
Decidi, entretanto colocar algumas folhas de papel
no bolso e uma caneta também. Mais do que isso, a missão era me manter atento a
qualquer distração e sonolência.
É sempre bom estar preparado para quando o poema
aparecer!
Este
texto é ficcional e surgiu após o presente do poema “Melancolia" do grande
amigo Flavinho! ( O Agente de Biblioteca Flávio Cilento)
Ofereço
como um agradecimento aos amigos da Seção de Biblioteca Escolar e nossas
contínuas lutas para o implemento de políticas mais humanas e
participativas aos Funcionários Públicos de São Bernardo do Campo.
É uma
Seção enorme, de pessoas maravilhosas, mas, gostaria de citar alguns nomes em
que gostaria de endereçar meu sentimento eterno de gratidão:
Ao grande
amigo e filósofo ( O nosso " Google" ) Marcelo Blum; Ao
"meninão" e futuro jornalista Cleber Benedetti; Para as bibliotecárias
Sílvia ( Mimi Curica) e Elizângela; Ao estimado Professor-Amigo-Filósofo
Andrei Vaczi; Ao poeta-advogado Flávio Cilento ( autor do poema Melancolia); Ao
" Bill Gates" da Seção e Professeur du Français Rafa Saad;
para a Aline Lima , atual chefe da SE. 132, cuja boa vontade e persistência no
bem devem ser enaltecidos e aos grandes amigos que já passaram por nós e hoje
estão em outra caminhada, em especial, ao nosso mais recente Papai-Professor de
Português Serjão!!
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