quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Vasto







Arthur Bispo do Rosário.



Com um laço de onda,
alvorada amiga
presenteei meu amparo
ao céu da mão que sorria.

Nadava ao encontro do Bote
o rio que secava a sede
mergulhava a língua ao Norte
no tempo  que é invenção doente.

A origem. Me preocupava a origem
do susto que é parecer vivo
enquanto calou-se a alma: vertigem!
Dor e saber. Onde mora em mim o incompreendido?
  
 Ó branco, testura da alma
reflexo das cores unidas
viveu por moldura da calma
o que é o reflexo da experiência vivida?

             ( depois)  

A mão. O que fez ao sossego?
O rio. O que fez saciado?
O tempo.  Por que marca depois de passado?
A humanidade sozinha ou o mundo a dois?

A morte é a mãe do mundo
arquétipo do crescimento
viver e mergulhar fundo
a cada olhar encantamento.




Poema feito a partir de um sonho com o artista Arthur Bispo do Rosário.  Entre algumas conversas que eu não consegui lembrar, diversas imagens da obra do artista apareceram no sonho, seguidas da palavra VASTO.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Concerta

Sou indeciso por opção.
Os enciclopédicos dirão que é doença d´ alma
Receitarão remédios e fórmulas como pronúncia à retidão.

No vasto mar que agitação é doença, querem acabar com a minha calma!

Honestamente, o horizonte se estreita com a indecisão.
Mas, aos senhores que desbravam ao controle da vida, tenho paura!
Vale lembrar que a certeza, pela certeza, é também sempre burra.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sobre o choque, a dissolução, o renascimento e o sentido da vida.




A vida é decisão preliminar.

Perdido entre as nuvens da manhã, que brilhavam o verde flamejante do
desencanto tardio, não fazia Sol em mim. Eu era branco (sem Sol) e linha. 

  O sentido de cada linha era ser página e o ritual sagrado deste tema era latente: seguir da iniciação ao verbo-carne. 

   A minha jornada era áspera, fugidia e opaca. Não se vê o futuro sem acender as luzes da eternidade enquanto presente. Para isso, aprendi que o tempo nada mais é que uma relação que você tem consigo mesmo. Antes de entender isso, o relógio seguiu muito tempo como algoz. Hoje, é adorno. 

 A minha adoração era o palco de representações que institui como essência criadora. Minha mão precisava acenar a partida e meus pés marcarem as pegadas do recomeço. Recomeço enquanto essência que nutre e enquanto nutre arde. Enquanto descobria o mundo pelo avesso,  sentia o calor da noite acesa, torturante, pois era ali, sozinho, que a aventura saía do coletivo e emoldurava-se para o individual. 

 A noite continuava acesa e gotejando rancores em lugares específicos do meu coração. Sabia que a maldade era impura, mas era o rancor vivo, que me conduzia sempre um passo para trás. O rancor é o reviver um olhar sombrio. 

Neste caminhar eu tinha certeza de que para andar para frente, seria preciso  enfraquecer o peso extra que vinha com os rancores e estabelecer a linha que me fizesse voar com a vida. Porém, para tudo que não temos certeza, temos o tempo certo, o momento sadio.

A alegoria desta infinitude é a paz. O momento sadio é aquele temperamento forte que arranca os rancores ( ervas - daninhas do coração) e apresenta a paz como evidência do esforço de permanecer lúcido e preparado para o encontro consigo mesmo. A paz incandescente não nos faz solitários e apresenta a inquietude floral como portal para o amanhã. A verdadeira paz é um livro de suavidade aberto e que te afasta das ilusões. 

Tudo que é vendido em forma de paz é sombra, sombra de uma paz obsoleta.

Ainda no caminho áspero, tive contato com algumas verdades rudes, gestos do pensar-falho. Sentia que estava cada vez mais próximo do abismo, e as saídas nunca seriam fáceis de encontrar. Cada auto-pergunta era um convite à reflexão e cada pergunta plantava em mim uma viga de um novo edifício forjado à fogo e marteladas. Sim, era um edifício novo arquitetado de dentro para fora erradicando as imperfeições do solo, que duraram, imperfeitamente, uma vida toda até aqui. As imperfeições paralisantes são vícios e vícios são palácios construídos em lugares errados. 

Além das imperfeições, também havia mofo.  Tudo que estava mofado era apenas falta de abertura, uma janela para o Sol. 

O abismo nunca esteve tão familiar. Não me preocupava mais em buscar entradas ou saídas porque tudo eram entradas e saídas, e depois do desespero, Gratidão. 

Ao mesmo tempo em que enfraquecido pela consciência, estava renovado. Foi preciso estender minha mão à Gratidão que rogava em silêncio por mim. Foi aí que entendi que a vida é decisão preliminar porque a vida é um susto. A vida começa antes de você ter consciência e proclamar que existe. 

 As palavras-mestres da Gratidão impregnaram meu corpo, agora um só. Elas também soavam familiares. Reconheci que sempre estiveram lá e apenas eu não aceitei, porque quem aceita a mentira nunca reconhece o bom, o pleno e o novo. 

Retomei o domínio da minha própria história. 

Após desenterrar as aberrações (sem violência. A violência é a linguagem dos fracos)  reconheci a Redenção, intercedendo às loucuras do meu próprio ser. Agora, eu era o que deveria ser: transparente. 

Ser transparente é entender os abismos e reinos da nossa existência e compreender que nunca deveriam causar guerra, nem devastação interna. Viver apenas pelo desejo é ser unilateral: a essência é só o fim do fracasso quando cai a aparência.

Corri.

Era mais que preciso correr. 

O dia era 31 e o ano antigo estava para vencer.

Corria, mas movia a mente com calma: o mosaico era a Grande obra e eu precisava continuar recolhendo os cacos.


Foi preciso destronar a ordem e assumir em cada grão de beleza, ainda invisível, que este ano tenha tudo para ser o ano dos mosaicos de sonhos férteis. 

É preciso. É sempre preciso.