O escravo em vida sofrida
certo do signo que nasce
à Morada pede a liberdade. 
As cartas dos que pedem o pão
com a fome fisicamente presente
o que existe é sacrificar a extensão 
da fome ali concluída. 
Mas em vida
basta chorar se viver é tudo que tenho?
Travessia. 
Noite grande que não cabe meus pés
a manhã desponta sem analogias
vejo-a intimamente
como os romanos que invadiam almas e línguas
a manhã está cravada pela carranca 
assombração que cura o mal olhar. 
Mentira é o que te ensinam 
como se você de nada soubesse
te ensinam a por concreto nas paredes
apertando o caráter 
mas não te ensinam a essência da paisagem
a isso, quem ensinará? 
Acordar é uma realidade nobre
sem retoque
é ouvir a manhã em prece 
fazer-se parte dela
porque todos somos manhãs 
em alguma parte da vida. 
Ferido, rastejo como o lagarto tinteiro.
Fui alvejado pelas estatísticas dos que morrem:
a rádio diz que o número de mortos é superior a do ano
passado
e o ano que vem será maior que esse ano
assim como a estatística dos carros roubados
dos homicídios qualificados
dos arrastões em condomínios
de luxo. 
Na sequência dos que morrem
o slogan sensual e atraente
é carro chefe da próxima atração: 
o medo ao próximo da esquina 
ao entregador de jornais do farol
 faz desacreditar dos
Homens
e  sentir-se feliz e protegido
por comprar o seguro contra acidentes pessoais
a consagração é definitiva: nunca se sabe quando vai
precisar de um.
A rotina é pronome conjugado na 1ª pessoa.
A julgar pela essência
em plenitude todos somos como Paulo nas areias de Damasco
tateando com ignorância 
em redenção latente
em qualquer Av. Paulista, Via Anchieta ou Marginal
Pinheiros.
Somos o que não devemos obedecer
e só a calma nos livrará de não morrer em silêncio.
A calma é o Santuário do pertencimento.
O rio acima da cabeça
dos homens é pequeno.
Ontem eu acordei porque a noite em mim não bastava
as ruas eram estreitas conexões de um modelo falido de
civilização.
Por ali as pessoas tinham apendicite
faziam inalação
tinham gordura no fígado. 
A rua onde cresci tornou-se um salão desconhecido para mim. 
Os terrenos onde jogava fubeca
taco
gol-a-gol
viraram apertados empreendimentos residenciais 
que engoliam  em cada
esquina 
a memória viva de mim.
Ali onde eu brincava
sapateava a ambição.
A igreja só não foi vendida
porque lotearam o terreno da escola. 
No desejo de viver
e sempre continuar
encontrei a calma como contradição do tempo
num íntimo prazer das coisas 
encontrei ruas abaixo
o tabuleiro da baiana
com seus assados ( pães, batatas,bolos)
cocadas, banana frita e caramelada
canjica e flores repentinas
todos os presentes dos antepassados
 a sabedoria transfigurou
o ditado:
está além do que se vê.
Basta um sorriso onde descansar o travesseiro. 
No terreno ao lado
longe da especulação
eu vejo a enxada
e a beleza das coisas a partir delas mesmas.
O que o leigo vê enxada ou rastelo
é técnica escondida
é pulso sereno
é o quarto das coisas humanizadas
guardada para quem tem olhos de ver. 
Para quem não tem
a ambição resguarda a possibilidade de um empreendimento
comercial
com um piso reto de quartzo branco.
Sim, há pigmeus defensores da mediocridade
assim como humanos separados da humanidade
e estrelas famintas de luz.              
Cifras que castigam o sol.
Escuridão é descobrir 
que seus ídolos 
eram anjos que devoravam seus sonhos. 
No escombro da decepção
alimentei o que protagonizamos lado a lado
e vi pulsar o coração do Sol. 
Então, exilou a palavra
engajada
caindo do alto a hierarquia da ignorância: 
viver
achar que vive
viver em vida
e então
a harmonia. 
Felicidade talvez?