domingo, 5 de outubro de 2014

Velocidade





Antes de escrever versos
eu crio mundos.

Escrevo enquanto as cidades estão na subida
porque desceremos todos juntos
e buscaremos os soterrados
ressuscitado-os com palavras.

As histórias estão presas
no ingrato ferro e bolo de cimento
em todo avanço que cobre a Primavera
que agoniza raízes
que abafa o esplendor das Paineiras
que faz os homens se levantarem contra outros homens.

Por onde segue a canção do caminho?
Onde está Atlas e a essência do planeta?

Persisto
porque sou poeta
que perfuma a Lua
e mostra aos homens a subversão da sombra
o recuo do clarão azul
transformando o desencanto em  legado.

Inquietas
massas ocas de pele e sebo
inventam precipícios
e lá se vão
longamente
rumo a uma feira de frutas vencidas
e peixes podres.

Não são os meses que tocam os anos
e o primeiro mundo existe.
Está no Amor das nuvens
 não nos homens de pele de enxofre de Manhattan
onde um mundo gradualmente novo se expande em seus dedos...
enquanto você dá poder à ilha
ela ri de você
te chupa
suga de forma indomável
seu hálito de vida.

Os fascistas estão com fome
e querem mais do que três refeições ao  dia.
O mundo ficou mudo
costurado com conforto.

Não terás destino
não terás repouso
enquanto os mesmos filhos de Santa Clara e Francisco
nascerem com a condenação ao silêncio.

Condenados ao silêncio
estão os cães nas ruas
e os animais que são espeto
deformados
como uma lembrança fria que corria.

Com golpes de individualismo e tecnologia
estamos nós
também
condenados ao silêncio.

Seremos resgatados
porque estamos acompanhados
pelo desejo de repartir o amor
em zonas vitoriosas.
A poesia arrancada da terra
testemunha dos dias de consciência
acalmou o frequente sofrimento:
antes do amor
estávamos sozinhos.

O amanhã será
a emanação de um novo mundo.