segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Poema sobre a passagem do tempo


" Tem gosto de nuvem
do Paraíso". 


Enquanto você dormia
ouvia suas histórias de Presente e Passado.

Era meia-noite
meus ouvidos estavam agitados
como um colecionador de moedas. 
Era uma só voz
e eu já tinha meu amuleto de histórias.

Meu vocabulário se apagou 
( não sou um poeta de palavras)
e tinha nas mãos o segredo do horizonte
meu próprio mito individual.

Mas seus olhos são maiores que a morte
e da aventura que é responder o esquecimento
caiu do céu
como mais uma de suas histórias
o segredo certo para sorrir
o tempo puro para chorar.

Lia com os pensamentos
cada frase
cada história sua
e venci a resistência da rua.
Pescava cada esperança ali despedaçada
e do chão recolhia colares
sorrisos
sentimentos inconclusos.

O evangelho que é estar ao seu lado
deslizando pelas laterais do seu sorriso curto
seus olhos apertados
fiéis como a noite
curavam minha ansiedade
como um fumo
enrolado na palha do tempo.

A chuva caiu
quando o céu quebrou
e se algo se for
lembre-se:
os encontros não são acidentes.



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Poema para a serenidade


Todos caíam. 
Preferiram a queda
a viver de olhos fechados. 

Foi tudo muito rápido
não houve silêncio
para buscar memórias.

As feridas já nasceram prontas.
Doíam
porque a humildade nos rasga
até cicatrizar a sombra.
Ainda quis saber
em que parte do invisível
elas estavam sendo gestadas.

E como ficam as feridas
e os escombros
se embaixo da avenida
não há arco-íris.

Alguns diziam: " foi melhor assim".
Mas a dor
antes de florescer
não muda de lugar tão cedo.

Vieram
como abelhas 
procurando ideias doces.

Trouxeram a pontualidade de uma mentira
para recompor a tristeza.
Sobreviver
não depende de princípios básicos que aprendemos na escola.
A sobrevivência é a herança do vazio
que abre portas
enterra medos
propaga o amor de mãe
em toda tempestade.
Basta estender as mãos. 

Das partes de uma história
deixada para trás 
a tristeza é como um dia simples
que ninguém colocou lá.
Ela está
perdida
em algum lugar do ontem
ferindo os pensamentos que não saem do lugar.

A tristeza deixa suas marcas
como um gigante
que sai de um mar sereno
para criar ondas.

* * * 

Como uma voz alta
o dia amanheceu sem parar.
E todas as certezas que tive com medo
foram apenas ideias antes de dormir.

A tristeza foi embora
porque tinha um nome.

O gigante explodiu. 
Seus restos viraram uma grande cidade ao Norte.

O que antes era vazio 
passou a ter a densidade do tempo presente
e um recado para meu futuro:

as abelhas deixaram as ondas
a tristeza um barco
e em breve
aprenderei a navegar. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Poema habitado



E se o mundo não fosse escuro
antes de você chorar?

Aqui estão minhas mãos
como uma mesa posta.

Balança o mundo sob seus pés
caem suas lágrimas
como o sopro de um machado.

O que pode o poeta
contra lágrimas que não se aquecem?

Com horário marcado
saímos.
Cruzamos a cidade
e a impaciência dela
seguia como um adversário de seu sorriso.

A noite cedeu uma lua particular
e continuamos.

A pele dela
um terraço de acontecimentos
e o cigarro devorava a tristeza que ela sentia
virando música entre seus dedos.

Foi com um chiclete que ela me deu
que eu conheci as canções de um terreno por Santo André.
O caminho até a boca dela
frescor rasgado pela anatomia das frutas
em cores que trabalham.

Debaixo de cada lágrima
um ponto de partida
uma rota de precipício
e a solidão pregada na parede
como um santo padroeiro
abençoando os peregrinos.

Eis que eu reclino os dias frios
e novos ossos protegem seu coração
de palavras selvagens
de quem aprisiona sua subida ao céu dos Homens.

Concentrado
sou como uma igreja aos pobres
sou como a raiz de nossa mãe que nos protege.
Uma flor decifrou o segredo de um anjo
seus olhos apertados decifram o segredo do instante.

Confia.

domingo, 14 de setembro de 2014

Poema 59


" Desde ontem, meus pensamentos todos envolvem você. Dirigindo, trabalhando...Justamente olhando a lua, basicamente nossa madrinha. 




Um manto azul nos cobre.
e com um lápis 
eu escrevo com tintas no vento. 

O seu sorriso é a minha civilização
herança que deixou
aos que se curaram.
O remédio
bem sabes
é viver.

Prendi meu silêncio 
entre as folhas verdes do meu peito
e a alegria 
inflou suas velas.
Eu sou
o que dela
se leva.

O vento
das minhas tintas
escreve em páginas de recomeço
saudando minha aventura
como uma baiana de vestido rendado
milagres e dendê. 

Confia
que a vida tem seu manto
e agulhas. 
Confia
e nunca morrerá de frio.
Serás sempre um livro
pedindo tinta e recomeço. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Poema 18


Não meça o tom de uma verdade.
Sabes ao certo
sem que eu vire as costas
que meu destino
é ultrapassar o enigma:
em quem confiar?

Por que não acompanhar
a pureza do seu coração
sem rebelar-se?

Seguirá habitando
esta terra de meus passos
armada
como um sósia da realidade?

Passei a contar a perversidade dos dias
para garantir
que nosso final não seja de dores.
Será o amor
destino intransferível?

Não se embriague dando nome às coisas.
É justamente o oposto da certeza
que aumentará seu campo de visão.

Quadra


A natureza exemplifica:
semente,terra e aduba.
Na vida, tudo que fica
muda?