segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O medo não é ancoragem


A vista
sobre todas as vistas
é apenas janela
pois quando o céu está limpo
esqueço das maiores mentiras
em pele de gratidão.

Do alto do 8º andar
a janela é a cidade
sem as voltas que ela dá.

Tentei avisar que a vida não sobe escadas
não usa elevador
mas eu faço poesia.

Da vida que soprava lá fora
a vida que ela desconhecia.
Aquela vida que ocuparemos com palavras
com bexigas
com todo azul e calor
chegará no verão.

O verão vai chegar
sem corações magros
varrendo o medo na hora certa
derrubando os quadros velhos das paredes
e a vida queimará em flor
longe das janelas
quando acreditarem nos poetas.

Sobre seus cavalos
túmulo de ventos
a beleza descerá.
O ventre da vida
nos convidará
para enfim participarmos
daquilo que merece renascimento.

Nós
os poetas
nem brancos, nem pretos
da cor do sol
da cor que os caminhos desconhecem
seguiremos a vida com oxigênio.
Não basta beijar o céu
perseguindo dúvidas.

Da rua
enfeitada com tranças e luzes
levo o que seria um novo caminho
além do hall do condomínio.

Queria ela uma canção
uma lua?
Não.
Saiu da sala
como quem vai ao quarto
e da lua que o poeta daria
ela queria
o dia-após-dia
com a voz fraca
de um piano perdido
a vida da janela.

O que vê a janela
se tudo é emanação
de um subterrâneo matutino.

Como consolo
das feridas do paraíso
dei minhas mãos para ela.
Escrevo linhas e eternidade
e tiro o frio que ameaça seu sorriso.
São com as minhas mãos
que conto histórias
de um mundo aberto e livre
que nasce além da janela.

O medo está congelado no 8º andar
porque ninguém acredita nos poetas.

O inverno se desenvolve.

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