Pelo toque de sua mão pura
seria poeta
correndo louco pelas palavras.
Pelo toque dos seus lábios
subiria ao céu
não cantaria mais tempos difíceis.
Pelo calor da sua língua
pelo frescor dos seus dentes
ávidos de sorriso e inocência
voltaria ao Paraíso.
Eu sou humano ofegante.
O Paraíso é abundância de anjos.
Acredito no seu templo dourado
na afirmação dos corpos
atabaques, seios, postura
cabelos.
Cabelos da gema da Terra
rainha e mãe dos homens
mãe dos pecadores
infiéis:
homens fieis à vida!
Nunca me verás ao céu
o viver sem rebarbas é meu invólucro.
De caprichos penitentes
a angustia é minha trindade
Salvação
e liberdade futura.
Sou essência de carne e osso
santo sacerdote fiel à quadris largos
amante da serenidade de seus seios
de suas pernas de maçãs carnudas
de sua língua
estrela polar avulsa.
O único conhecimento que contemplo
o restante eu abandono.
Passa a meia-noite
meia-noite dos homens e das cidades
fica em mim seu ventre
com gosto de nuvens.
A semente das horas marca minha alma
sou arrancado da delinquência
sou arrancado da vida estéril.
Salvação é perder-se no labirinto
sem desespero.
Sou o poeta da causa perdida
de canetas e ilusões
indecisões e martírios.
Sou o poeta buscado pela vida
de ternura e trabalho
a presença do homem.
Em louvor aos céus:
Onde estão suas mãos?