segunda-feira, 10 de junho de 2013

Felicidade talvez




O escravo em vida sofrida
certo do signo que nasce
à Morada pede a liberdade. 


As cartas dos que pedem o pão
com a fome fisicamente presente
o que existe é sacrificar a extensão
da fome ali concluída. 


Mas em vida
basta chorar se viver é tudo que tenho?


Travessia. 


Noite grande que não cabe meus pés
a manhã desponta sem analogias
vejo-a intimamente
como os romanos que invadiam almas e línguas
a manhã está cravada pela carranca
assombração que cura o mal olhar. 


Mentira é o que te ensinam
como se você de nada soubesse
te ensinam a por concreto nas paredes
apertando o caráter
mas não te ensinam a essência da paisagem
a isso, quem ensinará? 


Acordar é uma realidade nobre
sem retoque
é ouvir a manhã em prece
fazer-se parte dela
porque todos somos manhãs
em alguma parte da vida. 


Ferido, rastejo como o lagarto tinteiro.
Fui alvejado pelas estatísticas dos que morrem:
a rádio diz que o número de mortos é superior a do ano passado
e o ano que vem será maior que esse ano
assim como a estatística dos carros roubados
dos homicídios qualificados
dos arrastões em condomínios de luxo. 


Na sequência dos que morrem
o slogan sensual e atraente
é carro chefe da próxima atração:
o medo ao próximo da esquina
ao entregador de jornais do farol
 faz desacreditar dos Homens
e  sentir-se feliz e protegido por comprar o seguro contra acidentes pessoais
a consagração é definitiva: nunca se sabe quando vai precisar de um.


A rotina é pronome conjugado na 1ª pessoa.


A julgar pela essência
em plenitude todos somos como Paulo nas areias de Damasco
tateando com ignorância
em redenção latente
em qualquer Av. Paulista, Via Anchieta ou Marginal Pinheiros.


Somos o que não devemos obedecer
e só a calma nos livrará de não morrer em silêncio.
A calma é o Santuário do pertencimento.


O rio acima da cabeça dos homens é pequeno.


Ontem eu acordei porque a noite em mim não bastava
as ruas eram estreitas conexões de um modelo falido de civilização.
Por ali as pessoas tinham apendicite
faziam inalação
tinham gordura no fígado. 


A rua onde cresci tornou-se um salão desconhecido para mim.
Os terrenos onde jogava fubeca
taco
gol-a-gol
viraram apertados empreendimentos residenciais
que engoliam  em cada esquina
a memória viva de mim.
Ali onde eu brincava
sapateava a ambição.
A igreja só não foi vendida
porque lotearam o terreno da escola. 


No desejo de viver
e sempre continuar
encontrei a calma como contradição do tempo
num íntimo prazer das coisas
encontrei ruas abaixo
o tabuleiro da baiana
com seus assados ( pães, batatas,bolos)
cocadas, banana frita e caramelada
canjica e flores repentinas
todos os presentes dos antepassados
 a sabedoria transfigurou o ditado:
está além do que se vê.

Basta um sorriso onde descansar o travesseiro. 


No terreno ao lado
longe da especulação
eu vejo a enxada
e a beleza das coisas a partir delas mesmas.
O que o leigo vê enxada ou rastelo
é técnica escondida
é pulso sereno
é o quarto das coisas humanizadas
guardada para quem tem olhos de ver.
Para quem não tem
a ambição resguarda a possibilidade de um empreendimento comercial

com um piso reto de quartzo branco.


Sim, há pigmeus defensores da mediocridade
assim como humanos separados da humanidade
e estrelas famintas de luz.              

Cifras que castigam o sol.


Escuridão é descobrir  que seus ídolos
eram anjos que devoravam seus sonhos.
No escombro da decepção
alimentei o que protagonizamos lado a lado
e vi pulsar o coração do Sol. 


Então, exilou a palavra
engajada
caindo do alto a hierarquia da ignorância:
viver
achar que vive
viver em vida
e então
a harmonia.
Felicidade talvez?
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário