quarta-feira, 25 de abril de 2012

Foto: Dominique Marcon


As pegadas da sombra anunciam a Era do Sol.

Agitos.
Atabaques e o corpo em cena
é o Princípio da Luz
a matéria-prima da alma
suporte espiritual
defumando o peito rasgado
suor- esforço do renascimento
em vapor amarelo.

Neste corolário
descubro a sentença da misericórdia:
quanto maior a penumbra
mais próximo o endereço de Deus.

Abóboda florida de anjos celestiais
desintegra o corpo-chumbo
de reinações terrenas
folião desesperado
que se esvai a cada espetáculo.

Efêmero como o aviso da flor de cerejeira
e a severidade dos letreiros eletrônicos
A porta estreita não me cabe mais.
Nuclear é a acidez da devastação
e sua filha dileta: a raiva.
E eu, artificial demais
no jejum de compaixões
em passos longos que mal cabem uma ansiedade
contrariei a lógica da minha ascensão
firmando compromisso com o magnetismo natural da inércia
devastando e destruindo em nome de tudo que aprisiona.

A interrupção da sua euforia
doentia
é a lima que consome a ferrugem
e tudo que virou excesso
decompõe-se no Mar.
na Terra
no Coração.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Foto: Fernanda Fernandes


O entender e ser silêncio.

Em  cada dor do mundo
me abrigo nas palavras.

Viajo sozinho
desbravando o deserto de aridez ártica
cantando em valsas
a paródia de cada pranto.

Este mundo
de atropelo  e compulsão
(não me pertence mais!)

Feitiço criado por você
(pela incapacidade de ser genuíno)
dobra o mundo em dois
plano reto
labirinto coeso
das agressões
seja lá de quem
sufoca a nitidez dos fatos.

No amargor das decisões
materializa-se a dor
e o desarme para revidar.
Assim brota minha nova humildade
colidindo
rasgando
minha nova consciência :
domingo de ilusões
em um calendário de esperanças.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Duas faces de um igual


Foto: Dominique Marcon


Um estojo com possibilidades
o cotidiano e algumas histórias para contar.
Cheiro de onde mora o bom dia
o tijolo que tornou-se lar.

Esta é a solução de quem supera o fracasso:
viver, tampouco pensar alto por ver cada coisa em seu lugar
sentir e não se amedrontar com a bagunça
e cada coisa fora do lugar.

Tudo é tão simples
até passar pela fábrica dos modos e costumes
(crio o que não é meu
para aceitar o que há de mim e se perdeu)
super-homem de carne e osso
esfarela ao som do despertador
suas principais motivações
sendo  heroi demais para ser  tão fraco
como a luz da vela
solitária
onde a claridade repentina
derrete-se
sem o perpetuar.

Homem que não acende ao cotidiano
exerce o controle
ao extrapolar hierarquias
renascendo e crescendo
a cada abuso
sumindo e sumindo
a cada humilhação,
em uníssono rouquidão de apelos
de cegueira em farsa
compromisso baixo do desassossego.

Esta é a mentira dos iguais:
todos voltam para casa
após mais um dia
mais um dia do mesmo dia!

O boa noite é sincero
mas a noite nem sempre é tão boa
e nem sempre boa companheira.

E a fadiga
(sempre e nem sempre ela)
deixa os homens à deriva de momentos
e do relógio
reduzindo a vida.

E entre o comer e o dormir
haverá o desejo que os dias passem mais rápidos
que as horas corram
que jorre sangue
que se mastigue o fruto espúrio
do arrependimento
e nunca me encontrem.
porque eu mesmo nunca me encontrei.